Eleições no exterior e os reflexos no Brasil - Comex
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Este ano começou com a expectativa de que importantes eleições presidenciais ocorreriam em outros países e que as empresas brasileiras que atuam no mercado internacional deveriam acompanhar, uma vez que certamente impactariam nas relações diplomáticas e negócios internacionais aqui no Brasil.

Das eleições esperadas, duas já ocorreram: na Hungria e na França. Outras eleições que poderão impactar nas nossas relações internacionais são esperadas na Colômbia e na China.

Na Hungria, no início de abril, Victor Orbán foi reeleito primeiro-ministro e assume o seu quinto mandato com um perfil conservador e um discurso que reforça o seu antagonismo com a União Europeia. O que se espera é que a sua plataforma de governo não tenha muitas diferenças em relação aos mandatos anteriores. Em relação ao Brasil, às vésperas de ser reeleito, declarava apoio ao país, ao desenvolvimento econômico, mas não querendo “influenciar” as eleições que ocorrerão por aqui neste ano.

Em fevereiro passado, o presidente Jair Bolsonaro fez uma viagem à Hungria e o encontro com Victor Orbán tratou sobre o aprofundamento de parcerias nas áreas de ciência e tecnologia.  Dois memorandos foram assinados entre os ministros das relações exteriores, Carlos Alberto França e Péter Szijjárto, um para a promoção de ações humanitárias e o outro para a gestão de recursos hídricos e saneamento de águas. Na área da defesa, a Hungria anunciou a compra de dois cargueiros KC-390 da Embraer, pelo valor de US$ 300 milhões.

No ano passado, a balança comercial entre o Brasil e Hungria foi deficitária para o Brasil. No primeiro trimestre deste ano, o resultado apresentou melhora para o Brasil, se comparado ao mesmo período do ano passado, com déficit de US$ 85.950.580,00 em 2022 contra um déficit de US$ 100.902.197,00 em 2021.

Devido às declaradas afinidades entre os dois governantes, espera-se que outras oportunidades de negócios possam ocorrer entre os dois países.

Na França, Emmanuel Macron foi reeleito e certamente continuará com a mesma plataforma de seu governo anterior e posicionamento tenso quanto às relações diplomáticas com o Brasil. Em seu primeiro mandato, Macron se posicionou claramente contra o atual governo brasileiro em questões que envolvem as políticas ambientais, em especial à preservação da Amazônia e, por conta disto, dificultou a consolidação do Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e União Europeia. Mas sabe-se que, na verdade, a preocupação de Macron não é necessariamente a preservação da Amazônia e sim que a agropecuária brasileira é uma ameaça para este setor na França. Na verdade, se observarmos bem, Macron poucas vezes se mostrou preocupado com as questões latino-americanas.

Diante destas adversidades entre os dois governos, este relacionamento tenso só tende a acabar caso o atual presidente do Brasil não se reeleja. Do contrário, a tendência é que continue nesta toada, mesmo porque, para a França, não seria tão interessante aumentar este conflito, considerando que o Brasil é o seu principal parceiro comercial na América Latina. A balança comercial brasileira é deficitária em relação a esse país. O resultado apresentado no primeiro trimestre deste ano foi de um déficit de US$ 475.749.996,00. Se comparado com o mesmo período de 2021, houve uma melhora, pois apresentava um déficit de US$ 512.951.227,00.

Na Colômbia, as eleições presidenciais deverão ocorrer em 29 de maio, com a possibilidade de um segundo turno em 19 de junho. As pesquisas apontam que o candidato Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro, aparece na frente das intenções de voto, seguido por Federico Gutiérrez, candidato de direita. Em vencendo as eleições, Gustavo Petro seguirá os mesmos caminhos que temos visto em países como a Venezuela, Chile e Argentina, ou seja, plataformas socialistas de governo, o que certamente vai em desencontro com o atual governo brasileiro.

A Colômbia está entre os 20 maiores parceiros comerciais do Brasil. A balança comercial brasileira apresentou um superávit de US$ 368.221.631,00 no primeiro trimestre deste ano, um aumento expressivo se comparado com o mesmo período de 2021, que apresentava um superávit de US$ 169.775.045,00.

Em outubro de 2021, foi realizada a VI Reunião da Comissão de Monitoramento do Comércio entre Brasil e Colômbia, que tratou do aprofundamento das condições bilaterais previstas no Acordo de Complementação Econômica nº 72 (ACE 72), em especial para os setores agropecuário, automotivo, de plásticos e têxtil. Esta reunião também tratou sobre a eliminação da dupla tributação entre os países e outros assuntos. Se o candidato que está à frente nas intenções de voto vencer as eleições, muito provavelmente estas negociações serão paralisadas ou dificultadas.

Em relação à China, este país vem enfrentando uma desaceleração econômica devido às ações governamentais adotadas, como os lockdowns contra a covid-19. Segundo analistas, as empresas estão menos confiantes, há dificuldades para que os recém-formados se insiram no mercado de trabalho, as importações diminuíram e as exportações também sofreram impacto negativo, devido, em parte, à guerra entre a Rússia e Ucrânia.

No segundo semestre deste ano, a tendência é que o Partido Comunista reeleja Xi Jinping para seu terceiro mandato.  Para isto, este presidente promete a recuperação da economia, mas sem desconsiderar as rigorosas medidas de controle da covid-19. Ele vem defendendo ações que impulsionam o crescimento econômico investindo em infraestrutura, distribuindo cupons de consumo à população e mantendo a taxa básica de juros estável.

Como todo e qualquer movimento na economia chinesa impacta o restante do planeta, o Brasil não ficaria de fora, uma vez que tem este país como o seu principal parceiro comercial. A balança comercial brasileira apresentou superávit de US$ 5.090.276.724,00 no primeiro trimestre deste ano. Mas, se compararmos com o mesmo período do ano passado, que apresentava superávit de US$ 6.660.167.842,00, houve uma queda significativa nos nossos negócios com a China.

Conhecer e acompanhar estes movimentos políticos e econômicos internacionais é de suma importância para que os gestores de empresas que atuam no mercado externo se preparem e estejam prontos para adotar medidas que possam mitigar os riscos aos quais estarão expostos em qualquer situação.